ROGÉRIO LOURENÇO (1920/2012)

“Nesta senda junto à Natureza” acontecem muitas coisas. Dessas, neste momento, sai-me ao pensamento a figura do Rogério que nos acampamentos desportivos (que foi sempre aqueles que eu quis) não deixava de ser figura de destaque. Encontrá-lo era fácil, porque o seu espaço estava sempre delimitado, digamos assim, por um sem número de galhardetes que ele fazia jus em expor, de acampamentos onde tinha comparecido e também de outros de coletividades com quem ele fazia intercâmbio desses símbolos do campismo. E podíamos dizer com propriedade que símbolos é a palavra certa, porque o Rogério, embora fizesse intercâmbio de galhardetes, não aceitava os que registassem a data e o local onde ele não tivesse comparecido. Eram, com efeito muitos os que ele possuía, legitimamente admirados pelos companheiros que reconheciam nele o verdadeiro espírito campista, a que não deixava de associar a sua companheira, cujo nome infelizmente não recordo, e que foi primeiro do que ele. Porque, decerto já se aperceberam que eu estou a falar de um campista dos antigos, falecido em 30 de Janeiro deste ano e que por deslizes desta sociedade de que fazemos parte – não tinha família e vivia só -, só em 27 de Fevereiro passado foi a enterrar numa manhã soalheira daquelas de que ele gostava na prática do seu campismo.

O Rogério era um homem de porte altivo, com a sua personalidade. Mas quem se aproximasse dele logo reconheceria ser um homem afeiçoado a tudo quanto de bom ele quis colher do Campismo. E colheu e deixou marca.

Para já, a sua mulher, sua companheira de muitos anos, a quem já me referi acima, em certa altura viu-se impossibilitada de acampar, por via dos seus achaques, dos quais nem é bom falar. Pois o Rogério não desistiu de tê-la por companhia na atividade que ele tanto adorava, e logo, usando das capacidades da sua profissão, pôs mãos à obra transformando uma carrinha numa caravana equipada com todas as comodidades que sua mulher podia desejar.

Mas, quando se leia que o Rogério tinha a sua personalidade, não se interpretem erradamente as minhas palavras, porque estamos a falar de uma personagem popular. Não tanto como “Rogério”, mas como o “Lagarto”. Lagarto lembra logo uma hipotética ligação nem que seja de amizade pura e simples ao Sporting. Talvez. Todavia, no caso dele, esta denominação estava ligada a uma roupagem onde ele bem se destacou nos acampamentos.

Como os leitores sabem, nos bons velhos tempos não havia acampamento sem fogo de campo.
E naqueles em que ele estava presente já se sabia que iria, em certa altura do “fogo” ouvir-se uma rábula – “O Espada e o Lagarto”

Então era assim: Quando em certa altura se sabia que estavam presentes o Rogério Lourenço e mais o seu amigo Espada – hoje, felizmente gozando de muito boa saúde –  criava-se um certo ambiente de curiosidade em ouvi-los em altura própria no dito fogo de campo.

Não se pensem, todavia os leitores que as rábulas gizadas ali num instante pelos dois,  deslizavam para a maledicência ou a má-língua. Não ! Eram quadras, cantadas por ambos onde se salientavam satiricamente e com humor os actos e os factos chegados ao seu conhecimento durante o acampamentos, mas ditos sempre de modo a não ofender ninguém.

Não se pode, pois, deixar de salientar que a sua presença nos acampamentos (e a do seu companheiro Espada) graças à crítica das suas rábulas, continha pormenores úteis e construtivos para a modalidade que todos abraçavam.

Rogério Salvador Pereira Lourenço, embora tenha deixado de acampar há muito tempo, não se limitou a deixar passar o tempo lentamente, a aguardar. Ele foi, enquanto pôde, um personagem ativo e interessado, e também tem de ser recordado por isso.

 

– Artigo escrito por: Sócio nº 10 CCL, Costa Ferreira  –